Faz parte do viver nos sentirmos, com certa frequência, solitários.
No passado, antes do advento da eletrônica, uma pessoa não tinha outro remédio que ficar só nos momentos em que não pudesse ter companhia, e então, sem ninguém mais para conversar, só podia ter a si mesma como companheira: seus pensamentos e sentimentos, suas dúvidas e seus medos, suas certezas e confianças.
Foi ao perscrutar seu interior, buscar em seu íntimo as respostas que lhes faltavam, que os grandes homens da história nos legaram a mais rica herança que poderíamos deles ter. Deram-nos o saber contido em suas obras, as mais belas histórias da literatura universal. Deram-nos também a poesia, a música, a ciência, a legislação, e tudo mais que constitui nossa cultura e civilização.
Foi em momentos de solidão e inspiração que nasceram as mais belas composições. Foi também em visionária solidão que surgiram as mais inovadoras descobertas da ciência. E é na solidão, em nosso íntimo, que tomamos as mais importantes decisões de nossas vidas.
Hoje, cercados de aparelhos eletrônicos, de telas e teclados (ou sem teclados), estamos perdendo (ou perdemos) o costume de nos entregar a esses ricos momentos de inspiradora e produtiva solidão. Perdemos a prática de estar sós. E nos lançamos a uma desesperadora busca por estar sempre acompanhados, física ou virtualmente, por um sem fim de “amigos”, por estar sempre “conectados”. Ficamos entretidos com programas de TV, vídeos do YouTube, postagens no Twitter ou qualquer outra coisa que nos afaste da terrível solidão.
Muitos desses amigos não atendem exatamente à definição da palavra, sendo, portanto, uma grande perda de tempo o atender às suas demandas. Ao fugir desses importantes momentos (de solidão), jogamos fora muitas oportunidades que a vida nos oferece de encontrarmos respostas.
O Google pode nos trazer muitas respostas, e o Facebook nos conecta a inúmeras pessoas, e certamente têm o seu valor. Mas quem pode realmente nos levar à compreensão de nós mesmos? De que forma podemos saber se realmente estamos no caminho que devemos estar? Quais devem ser de fato nossas propostas de vida para que possamos ser felizes?
Não faltam exemplos, nas biografias de muitos, de que seu sucesso e felicidade, em última instância, foram determinados por decisões cruciais, em momentos de grande introspecção e profunda reflexão sobre o que era realmente importante. E não se conseguem essas respostas “fora”. Essas respostas só podem ser encontradas “dentro”, pois não são as mesmas para pessoas diferentes, e somos todos, intimamente, diferentes.
A vida nos dá muitas pistas do que devemos buscar, mas é preciso refletir para compreendê-las; nos oferece muitas oportunidades, mas é necessário buscar no íntimo de nós mesmos o seu significado.
Se prestarmos atenção, veremos que aqueles que melhor souberam conviver com as demais pessoas, que melhor souberam compreender a vida, e a viver com intensidade e respeito por tudo e por todos, foram aqueles que aprenderam a lidar com a solidão, a decifrar seus enigmas, a desvendar os tesouros escondidos que ela guarda e que subjazem dentro de nós mesmos.
Jean César Antunes Lima – Professor de Filosofia em Nova Acrópole