Várias vezes já falamos e nunca é demais voltar a repetir: o homem está doente de medo e as consequências dessa enfermidade se manifestam em novos e piores distúrbios que aparecem a todo momento
O medo é uma terrível garra que se fecha sobre os pensamentos, os sentimentos e a vontade, tirando do ser humano toda a possibilidade de ação inteligente. A atividade vital se reduz a defender-se, a escapar de tudo, a evitar as responsabilidades, a evadir-se de decisões, a esconder-se para “não chamar a atenção”; o cinza e opaco é hoje o mais apreciado e essas são precisamente as características do medo que também é opaco e cinza.
Aparece nesta circunstância uma modalidade especial: a do “anti”, aquele que se opõe a todas as coisas enquanto estas coisas significam o menor esforço pessoal próprio. Todas as coisas são “más”, pois os defeitos são os primeiros que se destacam, enquanto que o medo crescente faz perder toda a oportunidade de reconhecer virtudes.
Estar contra tudo – que é o mesmo que não estar a favor de nada – é uma nova expressão patológica derivada do medo. A única coisa que se sustenta como boa é o benefício próprio, a própria sobrevivência ainda que, para que se faça, há que destruir todos os demais que é a continuação lógica de estar contra todos. Se trata, como é evidente, de uma aberrante forma de egoísmo, no qual o “eu” se auto afirma na medida que há um desprezo por todo o circundante. Não se trata de elevar-se cada um em seu próprio esforço, senão em denegrir o que está ao redor para que destaque a própria estatura. Não se trata de superar os males que afetam o mundo, mas que, por temor, se negam e denigrem ao mesmo tempo que se esconde a cabeça sob as asas da inação.
O Filósofo deve erradicar o medo e, com ele, todas suas escolas. Deve aprender a distinguir o bom do mal, deve sustentar suas ideias e diferencia-las das outras que lhe são opostas, mas sempre com a vontade e a ação postas em movimento. Não podemos ser simplesmente “anti”; há que ter primeiro ideais firmes e autênticas para poder opor-se a alguma outra coisa. Antes de rechaçar deve-se aceitar; antes de negar deve haver saber.
O Filósofo pode encontrar erros e descobrir defeitos nos diversos aspectos que compõem a vida; mas não se conforma em aponta-los ou teme-los, mas trabalha ardentemente para melhorar tudo aquilo que esteja em suas mãos começando, naturalmente, por si próprio.
O Filósofo percebe que, apesar do mal, sempre existe o bom e o positivo e que muitas vezes está adormecido ou sepultado sob as ondas do temor e da inércia. As virtudes, como toda boa planta, devem ser cuidadas e cultivadas até encontrar-se com o seu pleno desenvolvimento.
O Filósofo não vai contra, mas a favor da vida, aceita suas correntes tortuosas e se esforça por conseguir uma clareza ideológica que lhe permite transitar pelo mundo. Os “anti- tudo” acabarão por se transformar em “anti-homens” e o Filósofo valoriza a condição humana como fator indispensável para constituir nosso ansiado Mundo Novo e Melhor.
Delia Steinberg Guzman