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Crescer em Memória e Imaginação

A uns quantos séculos de distância é sumamente interessante unir-nos a esta revolução. Começando por ampliar a nossa memória, ou por outras palavras, saber viver, não passar pela vida a transitar como o vento, mas recolhendo experiências, não tendo medo a acumulá-las e a assimila-las, extraindo de elas tudo o que nos interessa. A isso chamamos de saber viver, memorizar, não repetir sempre os mesmos erros, retirar dos provérbios o facto de que o homem é o único animal que tropeça não duas vezes, mas mil, na mesma pedra. Deveríamos tropeçar uma vez, e se temos memória, não voltar a fazê-lo nunca mais. Isto é ampliar a nossa memória, aqui e agora. Também deveríamos ampliar a nossa imaginação, já que ela é a arma com que podemos criar. Se antes dizíamos “saber viver”, agora deveríamos dizer “saber construir”. A imaginação não é perdermo-nos nos recantos de fantásticas imagens que nos arrebatam, e que nos ajudam a esconder-nos mas não a afrontar a vida, mas sim o espelho, a capacidade de captar imagens superiores, e é a força de fazer com que essas imagens superiores se convertam em realidades no nosso mundo. Trabalhar com a imaginação é converter-nos todos em artistas,…

Vocação e Formação dos Jovens

Escrevo esta carta a um jovem cujo nome desconheço, uma dessas pessoas com as quais cruzamos na rua ou enquanto esperamos na fila do caixa de uma loja. Um jovem que é a síntese e o símbolo de muitos que vivem circunstâncias semelhantes. Foi impossível deixar de escutar o que ele dizia a um amigo: “Tenho muito que estudar; não poderei sair este fim de semana, embora, claro, não faça o curso que gostaria, porque não obtive os pontos suficientes para fazer o curso que sonhava. Enfim, me conformarei com o que consegui.”    As palavras eram acompanhadas de um sorriso artificial, de decepção, que ri de si mesmo, uma aceitação de regras de jogo que ninguém compreende. A maioria das pessoas sabe que nosso mundo muda a grande velocidade, que as coisas não são como antes, que o que, não faz muito tempo, era considerado válido caiu no esquecimento e foi substituído por novas situações. Mas essas mudanças podem afetar aspectos substanciais do ser humano? Até há pouco tempo – e creio que ainda é assim –, havia pessoas que, desde pequenas, expressavam o desejo de estudar algo, de ser alguém, de realizar alguma tarefa específica quando fossem adultos.…

Convicção e Fanatismo

A nossa intenção é de clarificar a diferença que vemos entre convicção e fanatismo para que, postas as coisas no seu devido lugar, cada qual possa ajuizar sobre si mesmo e sobre os outros com um pouco mais de precisão. A convicção é um alto compromisso psicológico, intelectual e moral que surge de uma adesão progressiva e fundada em boas razões, em provas, em experiências, em modelos e bases sólidas. Uma pessoa com convicções demonstra uma saúde integral, uma segurança interior invejável, sabe de onde vem e para onde vai, que lhe permite mover-se com equilíbrio e sensatez. As convicções nascem de exercício constante das nossas capacidades interiores e da transformação paulatina de opiniões mutáveis em juízos estáveis. Não se trata de anquilosamento nem de estagnação; pelo contrário, quem tem convicções vive ao ritmo das Ideias, pois estas têm uma energia própria e um ritmo natural de desenvolvimento. Uma pessoa com convicções é tolerante. É firme no que lhe diz respeito, mas dá lugar aos outros. Sempre disposta a ouvir, não despreza os que pensam de outro modo. Possui uma tolerância ativa: ouve os outros, expõe e defende os seus próprios pensamentos sem ferir, sem insultar. Sabe criar espaço para…

Abrir a mente: fazer nossas as melhores ideias

Podemos pensar absolutamente sozinhos, sem nenhuma influência? Creio que não, que ninguém tem essa capacidade, mas sim que, em todo o caso, podemos assumir ideias de outras pessoas que se ajustam às nossas para que cheguemos a senti-las decisivamente nossas. O que podemos fazer é interiorizar ideias, pensamentos, crenças que intuímos que são as que mais nos convêm. Em questão de convicções, não interessa a originalidade, ou ter uma ideia nova nunca expressada até agora, mas sim viver com propriedade uma ideia que pode vir desde tempos remotos e que, porém, nos seja útil e apropriada para elaborar todo um sistema de valores relacionados. O primeiro passo, pois, consiste em abrir a mente aos seus aspectos de imaginação criadora e intuição, e não se fechar. Do exercício do pensamento, do saber escutar, do saber ler, do olhar para as palavras e no que elas significam, se abrirá pouco a pouco a confiança nas certezas que começam a aparecer. O segundo passo é tentar viver, aplicar essas ideias e intuições, fazê-las nossas, experimentar; embora cometamos erros e equívocos, também se aprende com os erros. Se alcançamos viver plenamente uns poucos sentimentos grandes, umas poucas ideais claras, experimentaremos a segurança de nos…

Nossos Estados de Consciência São Saudáveis?

Existem estados patológicos, tanto psíquico como mentais, que têm uma forte influência em seu entorno. Não é preciso referir-se aos estados mais graves. A melancolia, a preguiça, o mau humor, a depressão, o egoísmo, o medo, a dúvida, o ceticismo, o fanatismo, a passividade e a violência – para não continuar citando exemplos similares – formam uma “nuvem” ambiental da qual é muito difícil escapar, a menos que se conte com certa força de vontade e uma personalidade bem definida. O que mencionamos como fenômeno comprovável em pequenos grupos, também se dá em grandes concentrações humanas Pois bem, nos interessa perguntar por que não se contagia a saúde, todas as vezes que os estados de consciência têm a particularidade de ser transmitidos? Sim, também a saúde se “contagia”, se podemos usar esse termo, ainda que, curiosamente, com muito mais dificuldade. A saúde equivale a um estado de harmonia, de equilíbrio, e só pode contagiar àqueles que têm em si essas mesmas características, e são receptivos ao equilíbrio e à harmonia. Os estados de consciência que só se movem dentro do estreito campo que vai do corpo até a mente, são os mais suscetíveis a adoecer e transmitir essas doenças. Todos…

Preguiça….Eu?

Em geral, definimos preguiça como lentidão e demora em realizar as coisas. Atraso: Deixar tudo o que se está a fazer para realizar-se mais tarde. Lentidão: Demora exagerada para fazer algo que deve ser feito de imediato. É fácil imaginar a preguiça relacionada: com os nossos movimentos do nosso corpo, com a frouxidão com que se enfrentam as ações, com o tempo excessivo utilizado num alvo que, pela mesma razão, é cada vez mais demorado. Mas a preguiça plasma-se em outros planos da personalidade. Não afeta tanto que chegue a paralisar os sentimentos e os pensamentos. Mas só se sente e pensa-se naquilo que é confortável e agradável, aquilo que não requer esforço e constância. O conforto psicológico é o elemento determinante desta forma de preguiça: evitar qualquer confrontação. O que faz o preguiçoso? Sabe que tem várias situações emocionais que tem de definir ou resolver, mas não quer vê-las. Considera que o tempo irá apagar as nuvens da sua paisagem emocional e, mais tarde, vai ficará resolvido. Quando não se tem escolha, ao lidar com essas situações, facilmente fica irritado, agride aqueles que se atrevem a mostrar-lhe o que não quer aceitar, e faz da ira uma fórmula paliativa…

A História se Repete?

Muitos foram os estudiosos da História e os analistas em diversas disciplinas – sem contar os milhares de interessados na questão – que se fizeram esta pergunta. É evidente que não se pode responder de maneira simplista e que optar por um sim ou por um não requer um mínimo de considerações. Justamente as que nos propomos fazer da maneira mais humilde nestas páginas. Responder, sem mais nem menos, que a história se repete exige provas muito concretas, e nem sempre dispomos delas, ou seja, de que um fato é a repetição de outro. E do ponto de vista filosófico se cria o problema de que quanto mais repetições, menos possibilidades de evoluir. Que papel exerce o livre arbítrio dos seres humanos se tudo, cedo ou tarde, volta a passar pelos mesmos pontos? Ir ao outro extremo e afirmar que a história não se repete exige não somente provas de constante originalidade nos fatos, mas falta de visão para não perceber semelhanças altamente significativas. Dizemos semelhanças, não igualdades, pois o exatamente igual é a reprodução a que antes nos referíamos, enquanto que a semelhança permite pequenas variações quanto a matizes, que são as que mais nos interessam. O mais provável…

A Fortaleza Diante das Dificuldades

Quando se iniciou 2020, não sabíamos ainda o alcance dos momentos difíceis que viveríamos. Ao cabo de pouco tempo, se expandiu uma pandemia que afetou a maioria dos países – senão todos –, demonstrando que, nestes casos, o que consideramos diferenças não existem. Todos somos seres humanos, todos somos vulneráveis à enfermidade, e a dor afeta a todos nós. Diariamente vemos, com assombro e pânico, a quantidade de pessoas afetadas pelo coronavírus, o número crescente de mortos; embora muitos se recuperem, o número dos que morrem é assustador. É tão grande que, às vezes, não vemos mais que números e esquecemos a dor daqueles que se vão na solidão de um hospital ou em lugares piores, na tristeza daqueles que não podem se aproximar nem se despedir de seus seres queridos. Não vemos, por mais que repitam, a entrega incansável daqueles que se esforçam em salvar vidas, em elevar o ânimo daqueles que se sentem desamparados. Verdadeiros modelos de Fortaleza. Evidentemente, são momentos difíceis e, sobretudo, momentos especiais que colocam à prova nossos valores interiores. Saber sofrer não é fácil, mas, se há fortaleza, o sofrimento se converte em uma potência enorme, que desconhecíamos e nem sabíamos que podíamos desenvolver.…

A Estabilidade na Crise

Poderia parecer que a crise que sacode nossa civilização neste momento, em todos os rincões do planeta e em tantas frentes de expressão, é algo próprio de nosso tempo e apresenta uma grandeza excessiva. No entanto, com olhar atento, encontraremos crise em qualquer momento da História, e comprovaremos que os filósofos sempre examinaram seu sentido mais profundo. O uso reiterado e superficial das palavras as faz perder seu valor intrínseco. Hoje se interpreta como crise uma ruptura dolorosa, relacionada com o sofrimento e a perda em geral. Mas o conceito mais genuíno da palavra crise é “mudança”. Às vezes, se trata de uma mudança brusca, que modifica situações de diversas naturezas: materiais, morais, históricas, espirituais. É incomum que em uma crise se modifique somente um aspecto da vida; normalmente, diante de uma virada histórica importante, coincidem muitas mudanças simultaneamente. É preciso construir ou manter a estabilidade em todos os aspectos do ser humano e em todos os fatores que constituem uma civilização.Quanto ao aspecto civilizatório, buscar soluções materiais, quando decaem os valores morais, intelectuais e espirituais, é como preparar um banquete enquanto irrompem vulcões e tormentas ao redor.Com respeito ao aspecto humano, lutar pela preservação da subsistência física, menosprezando a…

Triunfar na Vida

A história é um extraordinário mostruário onde aparecem, como cristais de cores que variam de tonalidade segundo a luz, as diferentes ideias que configuraram os estilos de vida do homem. Cada período tem seus parâmetros e, no caminho incessante da busca, os humanos regem-se por esses modelos, tratando de segui-los e obedecê-los, tanto quanto não fariam com nenhuma outra ideia que proviesse de outra fonte. O comumente aceito é lei e, de acordo com o transcurso dos tempos, há aceitações que têm mais valor do que leis. Assim, em todo momento, o êxito foi uma meta, ainda que nem sempre tenha se considerado o êxito de igual maneira. O que assinalava o triunfo há um século, ou algumas décadas atrás, hoje pode bem parecer uma ideia desfocada e fora de moda, considerando que outras ambições tomaram o lugar das anteriores. Uma só coisa permanece: o desejo de sucesso, a necessidade de triunfar, a vontade de sermos aceitos e levados em consideração pelos demais, ajustando-nos à lei que faz do conjunto – nós e os demais – uma massa coerente na qual não se pode sobressair, nem sequer para encontrar esse sucesso por outros caminhos. As estatísticas ocupam páginas e páginas…