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A Terra chora

Há uma pergunta que nunca consegui deixar de me fazer: o que a Terra sente quando se queimam suas árvores? Se o planeta pudesse se expressar, como nos faria chegar a sua dor? Por mais ridículo que pareça, se os seres humanos variam de um lugar a outro em suas linguagens e formas de expressão, por que a Terra não deveria ter algum sistema próprio que pudesse ser compreendido pelos mais intuitivos e com mais discernimento? Se partirmos da base de que apenas os seres humanos estão conscientemente vivos, as perguntas anteriores não têm sentido. A Terra não seria mais que uma bem acondicionada rocha girando em sua órbita ao redor do Sol. Mas não posso evitar a lembrança de tantos filósofos antigos que souberam apresentar, com propriedade e clareza, seus pensamentos sobre a vida universal, que diz respeito a tudo que existe, embora se apresente sob as mais variadas formas. De acordo com isso, a Terra vive, tem seus ciclos de saúde e enfermidade, de tranquilidade e insegurança… Em sua própria escala, ela se alegra e sofre como nós. Não há provas disso? O que importa? Durante séculos, não tivemos provas das verdades científicas hoje aceitas e apoiadas em…

As motivações

Este tema pode ser examinado em seus dois aspectos: estar motivado ou estar desmotivado. Ambas são expressões que ouvimos diariamente, em diferentes ocasiões e em relação a muitos aspectos da vida.A motivação ou a desmotivação afeta todas as pessoas, inclusive aquelas que, dispondo dos ensinamentos de um Ideal Filosófico, não mantêm o rumo para converter este Ideal em um modo de vida feliz e duradouro. O que é motivação? É o motivo, a causa que nos leva ao movimento em um plano ou outro.O corpo tem motivos bastante evidentes para se movimentar, mas as causas mais interessantes de analisar são aquelas que colocam em movimento as emoções e a mente. Em geral, as emoções e a mente buscam a satisfação e evitam a inquietação: essas são as duas maiores e mais ilusórias motivações psicológicas.Afirma-se estar motivado quando há coisas das quais gostamos, que nos animam a obtê-las, produzem bem-estar, prazer e, principalmente, o apreço dos demais. Alcançar aquilo a que nos propusemos nos motiva a continuar em ação.Ao contrário, se diz estar desmotivado quando não há atrativo para nos levar à ação, seja porque não vemos resultados imediatos seja porque estamos desmoralizados por algum fracasso.Motivação e desmotivação se convertem então…

Filósofos e sofistas

Se a evidência foi, em muitas épocas da evolução humana, um elemento de conhecimento e constatação das coisas, é evidente que a História se repete. Com aparências ligeiramente modificadas, com circunstâncias pouco variadas, são as mesmas forças, as mesmas ideias que se apresentam em um jogo de opostos que talvez contribua para o equilíbrio definitivo da evolução. Há muito tempo, cerca de 2.500 anos atrás, viveu-se na Hélade um confronto público, político e moral entre sofistas e filósofos. Pode ter parecido um evento exclusivo dessa civilização. No entanto, sempre existiram, existem e parece que continuarão a existir sofistas e filósofos. Quem eram esses sofistas da época? Eram personagens de variados conhecimentos, com excelente oratória e uma extraordinária capacidade de demonstrar uma coisa e também o contrário dessa mesma coisa. Sua função era formar os jovens atenienses para as confrontações da nascente democracia; era preciso desenvolver habilidades que se ajustassem às necessidades políticas do momento. Pouco importava a verdade ou o encontro com o divino; o determinante era a felicidade humana no presente e a variedade de opiniões diante de uma Verdade que parecia distante e inacessível. Em resposta a esse florescimento sofístico, aparece Sócrates em cena. Ele é filósofo amante…

Primavera, símbolo da renovação

Chegou a Primavera, data que traz para todos, jovens ou não, um sentimento de renovação e esperança. Assim, pelo menos por um dia, imaginamos que as coisas vão florescer, que vão ser melhores, que vão em direção a um futuro que tentamos imaginar feliz. Mas esse sentimento não passa desse dia, como também nossos esforços para fazer de todo o ano uma primavera. Como homens desmemoriados que houvessem perdido a memória de ler, embora houvessem lido muito antes, olhamos sem ver e compreendemos sem compreender os ritmos da natureza. Uma voz interior escondida nos diz que a Primavera não é apenas uma das estações do ano, um momento de muitos, mas que o reverdecer da natureza é uma mensagem, uma linguagem que quer nos transmitir algo, embora não saibamos o quê. Imitando, como só os desmemoriados podem fazer, nos vestimos de cores claras, começamos a sentir o calor “psicologicamente”, e exteriorizamos desejos de renovação que, muitas vezes, não vão além de uma boa limpeza geral em nosso quarto. Não entendemos a linguagem da natureza. É verdade que ela se veste com roupas novas na Primavera. Mas ela se veste todas as primaveras, ano após ano, inexoravelmente, com paciência infinita, quase…

O Sol em nós

Nesta tarde quente de verão é um pouco difícil lembrar, devido ao desconforto do clima, que ainda se é filósofo. Minha intenção é referir-me a um fenômeno da natureza e a esse sol que, de uma forma ou de outra, podemos fazer nascer dentro de nós. Há poucos dias, me perguntaram em uma entrevista se nós, filósofos, paramos de trabalhar no verão. Tentei explicar que quando alguém é filósofo, ama a sabedoria e sente inquietudes interiores, isso não se detém com o verão, continua por toda a vida.

Não se Trata de Criar Anticorpos

Vivemos em um mundo poluído e nos acostumamos com isso. Principalmente nas grandes cidades, o nível de poluição ambiental aumenta a cada dia, mas, como não podemos abandoná-las, porque nelas estão ancoradas nossas obrigações, simplesmente nos adaptamos a essa situação. Nosso organismo criou anticorpos, e quase naturalmente nos acostumamos ao antinatural. Porém, o processo é mais complexo: a situação não se reduz ao meio físico, mas se expande aos planos psicológico e mental, contaminando as vivências humanas a pontos inimagináveis. A sujeira psicológica se manifesta em emoções grosseiras que se introduzem em todos os espaços da vida. A violência, a agressividade, o egoísmo extremo, parecem ser as medidas usuais na maioria das sociedades. Ao princípio, causam grandes sofrimentos – e continuam causando –, mas, se antes alguém se perguntava até onde seria possível suportar sim explodir, criamos anticorpos para nos defender e seguir adiante como podemos. Certamente a insegurança, o temor, a vulnerabilidade, nos perseguem, mas os anticorpos geraram uma forma de indiferença, que parece indiferença, mas não é. Essa frieza com que aceitamos as maiores crueldades – com a qual tomamos café da manhã todos os dias, graças à mídia – é uma forma de resistir, um dizer a…

O Intelectualismo

Uma das muitas doenças – e bastante graves – que aflige o ser humano atual é o intelectualismo.As mesmas coisas podem ser ditas sobre esse mal como vários outros: que ele ataca certos tipos de seres vivos sob certas condições, e que geralmente aparece em certas idades; não é conhecida a causa que os produz, e os remédios aplicados estão em processo de teste com sucessos e fracassos alternados.Como sempre, a doença começa a partir da decomposição de uma das partes do corpo. Quando a mente começa a funcionar sem ordem ou significado, quando as ideias se tornam obsessivas e monopolizadoras, sem dar origem a outra manifestação de vida, essa mente rarefeita sofre de intelectualismo. O que até então constituía o saudável exercício das faculdades mentais – mais ou menos desenvolvidas – transforma-se num desejo desenfreado de acumular cada vez mais dados, de obter cada vez mais cifras, de encontrar uma razão – seja ela qual for – para o inexplicável, de raciocinar o irracional, de desprezar tudo o que não passa pelo crivo do intelecto.Este homem doente está deformado. Sua cabeça cresce desproporcionalmente e todas as suas outras expressões diminuem ao mesmo tempo: o sentimento esfria, a fé enfraquece,…

A Dor

Há uma pergunta que, silenciosamente ou em voz alta, costumamos nos formular várias vezes por dia, muitas, demasiadas vezes na vida. Por que os homens sofrem? Por que existe a dor? Esta pergunta assinala uma realidade, da qual nos é impossível escapar. Todos sofrem; por uma ou outra razão, todos sangram em seu coração e tentam inutilmente apressar uma felicidade concebida como uma sucessão ininterrupta de prazeres e satisfações. Lembro-me de uma parábola do budismo que sempre me impressionou; aparece nos livros sob o nome de “O grão de mostarda”. E, em síntese, reflete a dor de uma mãe que perdeu seu filho e que, no entanto, espera voltar a vê-lo em vida graças às artes mágicas do Buda. Este não desanima a mãe. Apenas lhe pede que, para ressuscitar seu filho lhe consiga um grão de mostarda obtido de uma lar onde não se conheça a desgraça… O final da parábola é evidente: o grão de mostarda, esse grão tão especial, jamais aparecerá, e a dor da mãe se verá mitigado, em parte, ao comprovar quantos e quão grandes são também os sofrimentos de todos os demais seres humanos.  Porém, o fato de que todos os homens sofram, não…

A Filosofia: o Filósofo

Neste campo não pretendemos ser originais, senão simplesmente novos; enquanto o original busca divergir do conhecido, o novo dá vida, uma e outra vez aos mesmos valores essenciais. Por isso, a Nova Acrópole define a FILOSOFIA como sempre se fez, como “Amor à Sabedoria”, como uma necessidade impostergável de alcançar aquilo que nos falta, como a busca de um conhecimento profundo que satisfaça realmente as mais agudas inquietações humanas. Novamente afastados da originalidade, seguimos Platão para explicar as características dessa Sabedoria que constituiu a essência da Filosofia. Esta Sabedoria é uma totalidade, uma cúspide que se alcança através de um conhecimento inteligentemente dirigido e que vai desde o extremo da ignorância até à plenitude do saber. O conhecimento avança paulatinamente e não deve deter-se no penoso meio-termo da opinião que, acreditando saber, expõe arbitrariamente como verdades as que não passam de serem apreciações incompletas. O FILÓSOFO não é um sábio, não possui ainda o tesouro da Sabedoria, mas pelo contrário só a procura, vai atrás dela incansavelmente. Não se conforma com o diverso campo das opiniões intelectuais, à medida que vai conhecendo, vai-se transformando; o seu conhecimento ao chegar ao fundo das coisas converte-se num estilo de vida. Vive uma…