Este tema pode ser examinado em seus dois aspectos: estar motivado ou estar desmotivado. Ambas são expressões que ouvimos diariamente, em diferentes ocasiões e em relação a muitos aspectos da vida.
A motivação ou a desmotivação afeta todas as pessoas, inclusive aquelas que, dispondo dos ensinamentos de um Ideal Filosófico, não mantêm o rumo para converter este Ideal em um modo de vida feliz e duradouro.
O que é motivação?
É o motivo, a causa que nos leva ao movimento em um plano ou outro.
O corpo tem motivos bastante evidentes para se movimentar, mas as causas mais interessantes de analisar são aquelas que colocam em movimento as emoções e a mente. Em geral, as emoções e a mente buscam a satisfação e evitam a inquietação: essas são as duas maiores e mais ilusórias motivações psicológicas.
Afirma-se estar motivado quando há coisas das quais gostamos, que nos animam a obtê-las, produzem bem-estar, prazer e, principalmente, o apreço dos demais. Alcançar aquilo a que nos propusemos nos motiva a continuar em ação.
Ao contrário, se diz estar desmotivado quando não há atrativo para nos levar à ação, seja porque não vemos resultados imediatos seja porque estamos desmoralizados por algum fracasso.
Motivação e desmotivação se convertem então nos fatores que determinam nossas condutas, nossos gestos, nossa forma de falar e até nossa forma de encarar a vida.
A desmotivação
Traduz-se em desânimo, impotência diante das dificuldades, falta de energia para tomar decisões, perda de entusiasmo, desesperança no futuro.
Embora no início houvesse grandes expectativas, na medida em que os sonhos fantasiosos se diluem e a própria vontade se desarticula esperando que os triunfos venham de fora, as causas das motivações desaparecem.
Em parte, as sociedades em que vivemos são desmotivadoras, justamente porque abusam dos estímulos psicológicos falsos e superficiais, porque enganam ao propor o êxito simplesmente por comprar produtos de marca, tomar um remédio prodigioso ou estar na moda.
Isso traz como consequência a presença de muitos “indignados” pelo mundo, em parte irritados com a quantidade de mentiras nas quais fomos envoltos, como se fosse um feitiço difícil de se esquivar, e em parte desencantados pela falta de oportunidades, ou seja, de causas válidas para enfrentar a existência.
Os culpados da desmotivação
Os falsos valores que predominam fazem com que o esforço continuado seja substituído pelo sucesso fácil; o trabalho pela diversão; a atividade saudável pelo estresse; a investigação pelos rumores; o estudo pelo aprender o justo e necessário simplesmente para sair do problema.
Hoje o imediato prevalece sobre o importante. Incitam-nos a viver o presente, não com a consciência presente, mas refugiando-se na inconsciência para se esquivar de responsabilidades e dificuldades.
O passado geralmente é um conjunto de fracassos, e o futuro não parece muito melhor.
Esta atitude incentiva a procurar os culpados, não os verdadeiros, mas os mais próximos. Por isso culpamos as pessoas ao nosso redor, a situação do mundo em geral, a falta de dinheiro, a maldade das pessoas e tantos outros pretextos que levam à inação destrutiva e pessimista, com a qual também se pretende convencer os demais.
Motivações internas e motivações externas
É verdade que todos nós necessitamos de uma causa que dê sentido à vida.
A questão está em procurar boas causas e raízes estáveis.
Se os motivos são estranhos e externos a nós, viveremos em eterna dependência. Nosso mundo circundante se tornará um fenômeno atmosférico que estabelecerá nossos dias ensolarados e os tempestuosos, nossas alegrias e nossas angústias. Isso para não falar da dependência de outras pessoas, consideradas como motivo e causa do nosso proceder.
As motivações externas são, infelizmente, passageiras e instáveis e não servem de suporte para a Vida.
O fundador da Nova Acrópole, Prof. Jorge Ángel Livraga, dizia:
“Os sonhos morrem quando os deixamos morrer, quando dependemos exclusivamente de motivações exteriores para alimentá-los: se há pessoas que nos animam, estamos animados, se faltam essas pessoas, não temos mais energia; se as circunstâncias são favoráveis, nos sentimos encorajados; caso não, desmoronamos. Assim não se vivem os sonhos, assim não se expressa o entusiasmo. Assim, no máximo, um discípulo torna-se a sombra ou o reflexo do entusiasmo e dos sonhos dos outros, o reflexo das circunstâncias e da aprovação sorridente dos que nos rodeiam…”
As motivações internas surgem de nossas ideias e sentimentos escolhidos e assumidos por aprendizagem e decisão, pela experiência e perspectivas de futuro.
São estados de consciência que não se baseiam apenas na satisfação de necessidades primárias, mas que vão além dos instintos, dos sentidos, das emoções triviais ou das ideias da moda.
A melhor das motivações é um Ideal de Vida que coloca em jogo todas as nossas capacidades, que ocupa todo o nosso ser e que nos oferece finalidades a curto, médio e longo prazo, dando um sentido útil, poderoso e eficaz às nossas ações.
Motivações psicológicas e motivações filosóficas
As psicológicas são de curta duração porque dependem da instabilidade e da impermanência das emoções, sejam nossas ou alheias.
Se colocarmos o enfoque da vida nas emoções, é muito fácil que depois de um período de motivação surja outro de desmotivação, que, por seu próprio peso negativo, deixará marcas profundas na personalidade.
Se, por outro lado, assumirmos valores filosóficos, poderemos compreender as grandes ideias que moveram a História, aquelas que alentaram os personagens que continuam sendo sinais luminosos no caminho.
A filosofia é uma motivação permanente, porque a busca da Sabedoria é um caminho que nunca termina e que, ao contrário, apresenta metas sempre renovadas, oportunidades constantes de correção e renovação, de aprendizado e experiência, de afirmação e felicidade.
Vamos de fora para dentro e convertamos as motivações em causas, as causas em raízes, as raízes em fundamentos, os fundamentos em finalidades, as finalidades em evolução. Este é um verdadeiro caminho filosófico, um excelente motivo para viver.
Délia Steinberg Gúzman