Transformação Humana e Unidade – Chaves para a Sustentabilidade

– por Lúcia Helena Galvão

A busca da unidade para além das diferenças é o tema que inspira, em 2025, a Semana da Mãe Terra de Nova Acrópole. Essa reflexão propõe enxergar a Terra como um só lar, um só útero comum a todos os seres vivos.

Em tempos de crises ambientais e sociais, urge rever a maneira como nos relacionamos com a natureza  e, antes disso, conosco mesmos: cada um ante sua própria consciência.

A verdadeira sustentabilidade começa na transformação humana, pois não conseguiremos preservar a Terra sem antes tornar o ser humano mais consciente de seu papel no Todo.

O conceito de sustentabilidade, tão comentado em nossos dias, vai muito além do óbvio. As conferências e declarações mundiais trazem a ideia de sustentabilidade como o equilíbrio entre meio ambiente e desenvolvimento econômico, bem como o atendimento das necessidades do presente sem comprometer o futuro. Essas definições apoiam-se nos pilares social (garantir dignidade humana), econômico (garantir energia e recursos sustentáveis) e ambiental (proteger os ecossistemas). Entretanto, muitas ações são apenas de efeito passageiro: sem uma profunda mudança de postura do ser humano, qualquer mudança será apenas paliativa. O maior desafio a conquistar é a consciência sustentável.

Recordo-me de um período de racionamento de água ocorrido anos atrás. O lema da campanha promovida era: “Sabendo usar, não vai faltar”. Ou seja, não há o respeito pelo elemento em si, mas apenas o medo de que ele nos falte; só o ser humano (e nem sempre!) é digno de respeito. Sem que percebamos, nossas palavras revelam o profundo egoísmo e egocentrismo presente entre nós.

Creio que a educação ambiental começa em casa, o mais cedo possível. Lembro-me de uma ocasião em que a minha filha, então com cinco anos, ficou indignada ao ouvir uma coleguinha dizer que não se preocupava em economizar a água porque o pai poderia pagar por ela. Com a sinceridade típica das crianças, ela retrucou: “Não é porque o pai dela pode pagar, é por causa da água mesmo, coitadinha dela, vai ficar muito triste de ser tratada assim!” Que incrível ângulo para se ver as coisas! Ela se colocava no lugar da própria água e a defendia como um ser digno de respeito!

A visão pura das crianças revela o valor intrínseco da natureza. Precisamos resgatar essa visão e ensinar às novas gerações que respeitar a água, os animais e as árvores é respeitar a própria vida. Temos que tratar de substituir o “Para que isso me serve?” e começarmos a nos questionar: “Como eu posso servir a isso? Trata-se da chave da verdadeira sustentabilidade.

A natureza não precisa que produzamos mais gadgets e aparatos tecnológicos — ela precisa que comecemos a produzir seres humanos melhores. Somos parte de um ecossistema, não os donos dele. O escritor Leon Tolstoi dizia: “Há quem passe por uma floresta e só veja lenha para a sua fogueira.”  Infelizmente, esta ainda é a lógica que prevalece entre nós. Preservar a natureza humana é a chave para preservar toda a natureza.

A ONU criou o Dia Internacional da Mãe Terra para nos lembrar: somos interdependentes. O que acontece com um afeta a todos. E a Nova Acrópole abraça essa data com ações voluntárias e reflexões profundas.

Há soluções filosóficas práticas para um futuro sustentável. Como indivíduos, por exemplo, podemos desde já reduzir o consumo supérfluo, educar-nos para o respeito e o serviço — não apenas para o sucesso material — e valorizar a natureza por sua existência, não apenas por sua utilidade. Já de forma coletiva, podemos adotar práticas éticas e humanas, políticas de longo prazo e visão do todo.

A sustentabilidade como filosofia de vida – Para que a sustentabilidade seja eficaz, é necessário revisar a forma como abordamos esse conceito. Devemos deixar de pensar no que pode nos faltar e começar a valorizar as coisas pelo que são, independentemente da nossa existência. Tudo o que está no planeta tem o direito de estar aqui e merece respeito.

Quando essa consciência é incorporada ao nosso dia a dia, o impacto é muito maior do que qualquer campanha de marketing ou imposição social. As ações sustentáveis não podem depender de um convencimento superficial, mas sim de uma mudança genuína na forma como enxergamos o mundo.

Reduzir o egoísmo humano é um passo essencial para aprendermos a ver além de nós mesmos. Devemos olhar para o planeta como um espaço compartilhado com outras formas de vida tão dignas quanto nós. A sustentabilidade começa no respeito genuíno à natureza e na compreensão de que fazemos parte de um todo. Somente assim poderemos garantir um futuro equilibrado e harmonioso para todas as gerações.

Unidade não significa uniformidade: significa reconhecer que, apesar das diferenças, todos somos parte de uma mesma vida una. O mais eficaz gesto de sustentabilidade é tornar-se um ser humano mais lúcido, consciente e comprometido.

*Lúcia Helena Galvão – Filósofa, escritora e professora voluntária da Nova Acrópole há 37 anos.

Rolar para cima