Terra, lição de unidade para além das diferenças

Todas as civilizações antigas celebravam os momentos da natureza, como os equinócios de primavera e outono, que marcam momentos de plantio e, depois, de colheita dos frutos e sementes; os solstícios de inverno e verão, que marcam a expressão máxima da vida e o recolhimento da vida. Essas celebrações demonstram que eles buscavam uma ligação mais profunda com a Terra e seus ciclos. Queriam fazer parte desses momentos, pois sabiam que, do ponto de vista individual, todo ser humano também vive primaveras e invernos, e que cada ciclo é precioso para adquirir sabedoria e desenvolver virtudes próprias do ser humano.

É preciso, novamente, refletir sobre este tema e ver-se como parte da natureza — e não algo fora dela, à parte. Cada ciclo nos traz experiências que devem ser aproveitadas para desenvolver o melhor de nós mesmos.

Na tradição egípcia e hermética, acredita-se que tudo advém do mundo das ideias, de um plano mental, e certamente a Terra tem a sua ideia e atua para mantê-la. A título de exemplo, o nosso corpo possui muitas células e tecidos que necessitam de proteínas e aminoácidos. Estes possuem, em sua estrutura, o nitrogénio. Ele é abundante na atmosfera, mas não é absorvido pela respiração, apenas pela alimentação. Então, para que este nutriente nos chegue, há bactérias que fixam o nitrogénio no solo, para que seja absorvido pelos vegetais e, assim, chegue aos animais e a nós, humanos. E, se não fosse a existência dessas bactérias, não haveria vida como a conhecemos.

Quando olhamos para um ambiente natural, um bosque, um lago, um jardim com árvores, vem-nos à mente a percepção: “é bonito”, e essa beleza está ligada à ideia de harmonia. Na natureza, tudo se complementa, fazendo parte de um todo.

O solo, que é mineral, contém a resistência e os nutrientes para que o vegetal possa crescer e encontrar o sol. As plantas mais altas protegem as mais baixas, que vivem no sub-bosque. Existem até experimentos que mostram que as raízes das plantas possuem ligações e que, quando algumas não estão bem, as árvores maiores transferem alimento para seu sustento. Por sua vez, as raízes também são caminhos para que a água percorra o solo e retorne ao lençol freático, que alimenta uma nascente. Enfim, são inúmeras as relações de colaboração, cada um fazendo aquilo que lhe compete, segundo sua natureza, o que o torna parte do todo — transmitindo-nos essa ideia de harmonia.

A harmonia necessita do múltiplo, da diferença que nos dá essa ideia de unidade, pois tudo está ligado a uma ideia. Alguém pode dizer: “Mas os animais competem uns com os outros, uns predam os demais”. Bom, isso é uma meia-verdade. Para manter um equilíbrio entre os animais, há toda uma cadeia alimentar. Mas nenhum predador caça mais do que necessita para viver, dificilmente ataca se não estiver em perigo, e nem se diverte com a caça. É a forma que a natureza encontrou para que eles colaborem entre si, para controlar as populações e, ao mesmo tempo, manter um grau de tensão que coloca todos em evolução.

O ser humano pode aprender muito com isso: aprender a colaborar, saber que faz parte de algo maior, saber que existem diferenças, e que bom que elas existem! Pois só assim alcançamos a harmonia. E, se cada um fizer o que tem de melhor, de acordo com sua vocação, poderíamos ter uma sociedade mais harmônica, bela e justa.

*Felipe Guilherme Klein – Engenheiro Agrónomo, filósofo e professor voluntário da Nova Acrópole há 11 anos

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