“Quando há um sentido de beleza, tudo o que se faz obedecendo a esse sentido belo será. Da mesma forma, ao haver um sentido de virtude ou de retidão, a medida que se entra em ação, tudo que se faz, pensa ou sente é correto e belo”.
Estas palavras tão inspiradoras, e todo o artigo do mesmo autor, são uma ode à beleza em seu aspecto mais elevado, como uma forma de se afastar dos problemas cotidianos e deixar que a alma respire livremente.
Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que quando nos referimos ao “sentido” da beleza, não nos referimos a nenhum dos cinco sentidos habituais. Este é um “sentido interno”, para lhe dar um nome, que está mais relacionado com as percepções interiores e com a intuição.
Esse sentido nos traz várias perguntas e também considera a Beleza sob vários ângulos, tão sutis que as palavras sempre serão pobres para expressar.
O que é a Beleza? Poderíamos defini-la de uma maneira que pudesse ser válida para todas as pessoas?
Não, é quase impossível defini-la porque cada um faria de uma forma diferente, de acordo com sua própria personalidade, a variação dos seus estados de ânimo, suas experiências, suas vivências, seus hábitos, preconceitos… também o faria de acordo com sua maturidade, quando os anos realmente nos permitem amadurecer com as experiências.
Então, teríamos que aceitar que a Beleza é uma questão de opinião?
Também não podemos considerar assim, ainda que, infelizmente, a Beleza, como muitas outras percepções internas, foi manipulada até acomoda-la às modas e todo o dinheiro que se pode obter a partir daí.
Hoje comerciamos com o feio ou o absurdo porque fomos habituados a concordar com o que todos aprovam, sem nos importar com os porquês. Em muitas ocasiões nos perguntamos: por que temos que aceitar o feio, o que nos produz rechaço, o que nos obriga a reconhecer que não compreendermos nada, só pelo fato de que é o que todos aprovam, o que mais vende ou que está na vanguarda da moda?
Em vista de tal situação, precisamos buscar uma Beleza verdadeira que, ainda que indefinível, ao menos seja captada por todos e seja perdurável ao longo do tempo. Uma Beleza atemporal e arquetípica, um modelo que sempre cause admiração e desejos de unir-se à harmonia que emana.
A ideia arquetípica da Beleza nos leva a diferenciar a beleza exterior da beleza interior.
A beleza exterior se fundamenta sobretudo nas formas que, gostemos ou não, mudam e se destroem. A beleza interior pode ser subjetiva, e de fato é, mas é capaz de encontrar a essência de todas as coisas quando se buscam os elementos permanentes, além das formas. Para isso, temos que utilizar uma forma especial de ver, de ouvir e de perceber em geral.
A Beleza se aprecia instantaneamente quando a consciência está serena e não condicionada às circunstâncias nem às opiniões. É captada como um impacto de proporções harmoniosas, nem sempre consciente, mas que, no entanto, desperta uma parte desconhecida da própria consciência.
O mais importante é que apesar de não poder definir a Beleza nem conhecer a própria consciência em profundidade, se produz uma mudança benéfica, uma tendência tranquila à concentração, a reflexão, a unidade, sem elaborações mentais que destruiriam esse estado de ânimo que está além de todo sentimento.
Esta Beleza não resiste ao pensamento analítico; o inclui sem pensa-lo. O intelectualismo a destrói. Ao contrário, a Beleza profunda produz emanações de delicadeza, sensibilidade, refinamento, equilíbrio, eficácia na expressão; nos aproxima da retidão, da compreensão e do amor.
A Beleza arquetípica se reflete de maneira natural nas formas belas.
Poderíamos afirmar que toda a Natureza é bela porque não busca os adornos artificiais, por que não “sabe” que é bela, simplesmente é, por isso impacta a alma. Porque tudo na Natureza tende à evolução, o que significa que tende à sua própria verdade essencial, e, por conseguinte, à Beleza.
Também podemos afirmar que a Arte é beleza, ainda que entraríamos em uma polêmica similar à da definição da Beleza. É certo que teríamos que especificar o que entendemos por Arte. Há muitas formas da verdadeira Arte e são aquelas que comovem a alma e nos harmonizam. São aquelas que nos fazem esquecer por um momento de nós mesmos e nos introduzem em um mundo especial no qual nos submergirmos com verdadeiro prazer interior.
A Arte com Beleza integra a consciência, quase sempre dispersa no superficial, produzindo uma concentração agradável, espontânea e harmoniosa. Não importa que não conheçamos tecnicamente alguma arte determinada. Simplesmente apreciamos o efeito artístico dessas técnicas.
Por esses infortúnios que distorcem as sociedades humanas, aceitamos como arte qualquer expressão no qual prevalecem a desagregação, o agrupamento desordenado das partes, sem relação entre si. Assim, perdemos o maravilhoso valor da unidade da verdadeira obra de arte.
Toda arte tem suas técnicas e seus regulamentos: todos os artistas devem conhecê-las, mas, tendo as dominado, entram no mundo da inspiração, onde as regras não estão tão à vista, senão o seu efeito profundo que é propriamente a Beleza
Repetimos as palavras de Sri Ram: Dizem que todas as artes aspiram à música, há nelas uma tentativa de aproximar-se da música, que é a mais subjetiva de todas as artes, por que é etérea, sutil e semelhante aos movimentos da consciência. Há nela e, por consequência, nas Artes, uma harmonia em movimento, como uma linha melódica que inclui as combinações rítmicas e harmônicas.
Por isso é nosso dever colocar às crianças em contato com a Beleza o mais cedo possível para que, à medida que desperte sua consciência e se estabilize, possam vê-la onde quer que estejam. E se não o fizemos até agora, sempre é um bom momento para voltar a sentir-se crianças tão puras e simples para descobrir mundos maravilhosos de mão com a imaginação.
DELIA STEINBERG GUZMÁN