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Como Fazer Alquimia

Gostaria de aprender uma receita básica de Alquimia? pois aí vai: comece por misturar um finalzinho de tarde ensolarada de domingo com a Missa Brevis, de Palestrina. Feita a mistura, coloque-se, então, frente a uma janela, bem aberta, sem vidros ou cortinas, em absoluta paz e silêncio, e respeitoso vazio de pensamentos. Simplesmente esqueça de si por alguns momentos, entendendo bem que esquecer de si é esquecer também de todos os julgamentos prévios que habitualmente despejamos sobre as coisas. Apenas corpo e alma limpos e olhos e ouvidos bem abertos.

Agora, começa a magia: veja as coisas. Veja como salta, vivo e vibrante, o verde das folhas…como se movimentam, soprados por um fresco hálito que circula em tudo, às vezes com movimento suaves, às vezes intensos e alegres, como as alternâncias das vozes, que se enlaçam, em seus cantos de louvor.

Veja o céu: como o azul suave, cheio de nuances das luzes do poente, sugere a mais perfeita e plácida paz, num contraste que é quase perplexidade ante a volúpia da terra… Veja como a luz se projeta nas coisas, nos cantos, em pequenos e dourados raios e reflexos, brinquedo de esconde-esconde, que, às vezes, nos surpreende em um cantinho escondido, como se nos dissesse: “Olha, também posso estar aqui!”

Perceba, sem preconceitos, todos os ruídos: canto dos pássaros, ranger de um motor, vozes próximas e distantes, gritos de uma criança e de um vendedor ambulante…brinque de tradutor, e perceba, em tantas formas, tantas línguas, aquela mesma mensagem que Palestrina expressou de forma tão clara: “Gloria in ExcelsisDeo…”

O sopro fresco que entra pela janela, a fresta que abri para a realidade, me traz todas estas mensagens, que tantas vezes tenho visto e ouvido sem ver e sem ouvir. Os anjos de Palestrina a traduziram para mim. Diante da janela que abri para a vida, o amor ao mistério também vibra em mim, e eu o vejo…enquanto as vozes entoam”KyrieEleison…”

Tudo isso porque Missa Brevis e poente são pedaços espalhados do corpo de Deus que, encaixados momentaneamente, dão a ideia da beleza e perfeição do Todo, e não podem despertar em nós senão pertencimento e plenitude. E, assim, meu caro alquimista iniciante, aprenda os primórdios da Alquimia ao se tornar um respeitoso buscador de uma maior intimidade com a Beleza, com suas exigências de pureza, seus protocolos de harmonia e seus mistérios, e com a janela que ela sempre nos abre, colocando-nos frente a Deus.

Lúcia Helena Galvão, Professora de Filosofia em Nova Acrópole