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Vocação e Formação dos Jovens

Escrevo esta carta a um jovem cujo nome desconheço, uma dessas pessoas com as quais cruzamos na rua ou enquanto esperamos na fila do caixa de uma loja. Um jovem que é a síntese e o símbolo de muitos que vivem circunstâncias semelhantes. Foi impossível deixar de escutar o que ele dizia a um amigo: “Tenho muito que estudar; não poderei sair este fim de semana, embora, claro, não faça o curso que gostaria, porque não obtive os pontos suficientes para fazer o curso que sonhava. Enfim, me conformarei com o que consegui.”    As palavras eram acompanhadas de um sorriso artificial, de decepção, que ri de si mesmo, uma aceitação de regras de jogo que ninguém compreende. A maioria das pessoas sabe que nosso mundo muda a grande velocidade, que as coisas não são como antes, que o que, não faz muito tempo, era considerado válido caiu no esquecimento e foi substituído por novas situações. Mas essas mudanças podem afetar aspectos substanciais do ser humano? Até há pouco tempo – e creio que ainda é assim –, havia pessoas que, desde pequenas, expressavam o desejo de estudar algo, de ser alguém, de realizar alguma tarefa específica quando fossem adultos.…

Convicção e Fanatismo

A nossa intenção é de clarificar a diferença que vemos entre convicção e fanatismo para que, postas as coisas no seu devido lugar, cada qual possa ajuizar sobre si mesmo e sobre os outros com um pouco mais de precisão. A convicção é um alto compromisso psicológico, intelectual e moral que surge de uma adesão progressiva e fundada em boas razões, em provas, em experiências, em modelos e bases sólidas. Uma pessoa com convicções demonstra uma saúde integral, uma segurança interior invejável, sabe de onde vem e para onde vai, que lhe permite mover-se com equilíbrio e sensatez. As convicções nascem de exercício constante das nossas capacidades interiores e da transformação paulatina de opiniões mutáveis em juízos estáveis. Não se trata de anquilosamento nem de estagnação; pelo contrário, quem tem convicções vive ao ritmo das Ideias, pois estas têm uma energia própria e um ritmo natural de desenvolvimento. Uma pessoa com convicções é tolerante. É firme no que lhe diz respeito, mas dá lugar aos outros. Sempre disposta a ouvir, não despreza os que pensam de outro modo. Possui uma tolerância ativa: ouve os outros, expõe e defende os seus próprios pensamentos sem ferir, sem insultar. Sabe criar espaço para…

Abrir a mente: fazer nossas as melhores ideias

Podemos pensar absolutamente sozinhos, sem nenhuma influência? Creio que não, que ninguém tem essa capacidade, mas sim que, em todo o caso, podemos assumir ideias de outras pessoas que se ajustam às nossas para que cheguemos a senti-las decisivamente nossas. O que podemos fazer é interiorizar ideias, pensamentos, crenças que intuímos que são as que mais nos convêm. Em questão de convicções, não interessa a originalidade, ou ter uma ideia nova nunca expressada até agora, mas sim viver com propriedade uma ideia que pode vir desde tempos remotos e que, porém, nos seja útil e apropriada para elaborar todo um sistema de valores relacionados. O primeiro passo, pois, consiste em abrir a mente aos seus aspectos de imaginação criadora e intuição, e não se fechar. Do exercício do pensamento, do saber escutar, do saber ler, do olhar para as palavras e no que elas significam, se abrirá pouco a pouco a confiança nas certezas que começam a aparecer. O segundo passo é tentar viver, aplicar essas ideias e intuições, fazê-las nossas, experimentar; embora cometamos erros e equívocos, também se aprende com os erros. Se alcançamos viver plenamente uns poucos sentimentos grandes, umas poucas ideais claras, experimentaremos a segurança de nos…

Reflexões sobre Jung – “Questão do Coração”

Em tempos em que nem sempre as opções oferecidas pelos cinemas parecem ou são realmente interessantes, uma dica para quem deseja selecionar bem o que assistir em casa. Produzido em 1986 nos Estados Unidos, “Questão do Coração” é um documentário sobre vida e obra de Carl Gustav Jung, que foi lançado Brasil apenas no dia 6 de dezembro de 2013, pela Versátil. Consta de uma entrevista com o próprio Jung, datada da década de 50, e com depoimentos de vários de seus amigos e alunos. Dentro da densa quantidade de informações oferecidas, nem sempre fáceis de compreender, destaca-se a ideia do inconsciente, Descrito pelo próprio Jung como uma das razões para seu famoso rompimento com Freud, pois este último encarava o inconsciente apenas como um espécie de “depósito” onde os resíduos da atividade consciente são descartados; para Jung, pelo contrário, trata-se de uma rica fonte de experiências, com vida autônoma, por vezes. Ora vejam bem, para quem não trabalha diretamente com psicologia, analítica ou não, mas com filosofia, lembramos do conceito de inconsciente como tudo aquilo que influencia nossa atividade consciente, sem que possamos ver com clareza suas origens; daí que poderíamos identificar diferentes patamares de inconsciente: pessoal, individual, cósmico…pois…