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Eu Acredito em Príncipes e Princesas, no Amor… e na Vida

Quando era pequena, amava aquela passagem do Peter Pan, onde a Sininho falava que, cada vez que alguém dizia não crer em fadas, uma fada morria. Batia palmas, energicamente, junto com Peter Pan, para que ela voltasse à vida, e vibrava quando ela alçava voo, espalhando pó de pirlimpimpim para todos os cantos. Num desses dias, escutava uma jovem que, ao se lamentar pelo aparente fracasso em seu relacionamento, usou uma frase fatal: “Já não sou mais uma menina para acreditar em príncipes encantados montados em cavalos brancos e em amor eterno… já me conformei com a realidade!” Acho que o pó de pirlimpimpim, tantos anos adormecido dentro de mim, despertou e soltou faíscas diante disso: como assim? que realidade? Que as paixões morram, acho natural, pois buscam coisas tão superficiais que já nascem meio mortas; tão instintivas, que parecem mais anseios do cavalo que do príncipe; tão densas e carregadas de fantasias, que parecem partir mais do fígado do que do coração… são mesmo fugazes, as paixões. Mas por que devem carregar consigo o Amor? Quem disse que elas suportariam tal peso? “Mas os fatos comprovam…” diria a nossa jovem… quem disse que a realidade se mede por fatos?…

A Alma

Há um belo mito, deixado pelo filósofo grego Platão, sobre a origem das almas humanas e sua natureza. Conta Platão, em seu diálogo Fedro, que no início de nosso mundo participamos de uma corrida grandiosa junto aos Deuses. Cada alma humana consistia de uma carruagem, puxada por dois cavalos alados. Um dos cavalos possuía natureza divina e virtuosa; o outro, de natureza animal, índole rebelde e passional. As carruagens se puseram em fileiras, lideradas pelos principais deuses do Olimpo, na corrida rumo ao Céu de Uranos, o Céu da Perfeição, dos Arquétipos Celestes. Iniciou-se a corrida divina. O filósofo descreve esse cenário de forma fantástica para o nosso imaginário: os deuses perfilados, majestosos, em seus cavalos de longas asas luminosas, dirigindo-se ao alto, seguidos pelas almas humanas, em seus pequenos carros. As longas fileiras descreviam espirais, rumo à abóbada celeste. As almas humanas encontraram dificuldade para acompanhar os Deuses, pois um de seus cavalos, o de índole difícil, de asas curtas, dirigido pelos impulsos instintivos, não obedecia aos comandos do condutor. Enquanto que seus cavalos de natureza pura e divina, naturalmente dirigiam-se ao alto, atraídos por um poder fenomenal. E, inevitavelmente, num dado momento, um a um, os carros humanos…

A História se Repete?

Muitos foram os estudiosos da História e os analistas em diversas disciplinas – sem contar os milhares de interessados na questão – que se fizeram esta pergunta. É evidente que não se pode responder de maneira simplista e que optar por um sim ou por um não requer um mínimo de considerações. Justamente as que nos propomos fazer da maneira mais humilde nestas páginas. Responder, sem mais nem menos, que a história se repete exige provas muito concretas, e nem sempre dispomos delas, ou seja, de que um fato é a repetição de outro. E do ponto de vista filosófico se cria o problema de que quanto mais repetições, menos possibilidades de evoluir. Que papel exerce o livre arbítrio dos seres humanos se tudo, cedo ou tarde, volta a passar pelos mesmos pontos? Ir ao outro extremo e afirmar que a história não se repete exige não somente provas de constante originalidade nos fatos, mas falta de visão para não perceber semelhanças altamente significativas. Dizemos semelhanças, não igualdades, pois o exatamente igual é a reprodução a que antes nos referíamos, enquanto que a semelhança permite pequenas variações quanto a matizes, que são as que mais nos interessam. O mais provável…

O que é a dimensão humana da Vida?

O filósofo francês René Descartes (1596 – 1650) pronunciou uma frase que ficou famosa e que foi distorcida com o passar do tempo: “Penso, logo sou” (“Cogito ergo sum”, do verbo latino “esse”, que significa prioritariamente “ser”, e não “existir”). Ou seja, aquilo que É comanda o pensamento. Assim, colocava o Ser acima do pensamento. Descartes era considerado um filósofo idealista: a Ideia (mundo do Ser) ilumina o pensamento, dando origem à razão. Com o tempo, a tendência que predominou no iluminismo e continua prevalecendo no mundo atual distorceu essa frase, transformando-a em: “Penso, logo existo”, condicionando a existência ao pensamento, numa espécie de culto ao racionalismo empírico, predominante na metodologia científica atual. No entanto, como esta corrente de pensamento não pôde ignorar a existência, também, dos sentimentos, da energia vital (disposição para agir, para adquirir propriedades, riquezas etc) e das necessidades biológicas (instintos de sobrevivência e procriação), a pergunta “Quem sou?” ganhou um grau alto de complexidade. São várias as alternativas de resposta: sou aquele que pensa ou a minha identidade é o próprio pensamento? Ou sou aquele que sente? Sou aquele que vibra, com disposição e confiança em si mesmo, porque possuo propriedades e riquezas? Sou os meus…

O Símbolo de Gilgamesh – O Homem Que Não Podia Morrer

O tema de hoje, obviamente, estudamo-lo de uma forma técnica na cadeira de Fenomenologia Teológica (Religiões Comparadas da Nova Acrópole). Estudamos as traduções dos rolinhos e tabuinhas sumérias, babilónicas, etc., que esses homens do terceiro e do quarto milénio antes de Cristo nos deixaram. Nesse legado encontrámos referências ao Mito de Gilgamesh. Vamos analisar este mito sob o ponto de vista simbólico e não tão técnico, de maneira a que possa interessar a cada um de nós. Pessoalmente, creio que não só na história dos símbolos, mas também na história dos acontecimentos humanos, o mais importante não é captar a parte técnica ou formal – porque o técnico e formal passa – mas captar o espírito, captar os motores que puderam mover os acontecimentos históricos, quer seja na parte material, económica, política, espiritual. Refiro-me àquela parte que sobrevive em nós como humanidade e que é sempre fresca e atual. Então, Gilgamesh, não vai ser para nós somente aquele gigante sumério filho de Enlil, mas vai ser um símbolo, algo que pode estar em cada um de nós. Gilgamesh é o filho de Enlil e diz-se – segundo todas as parábolas e todas as formas simbólicas – que é esse grande…